domingo, 24 de abril de 2011

Os morros que eu subi em companhia das águas

Que eu adoro conhecer lugares inóspitos, não é novidade. Mas eu nunca fui de desafiar a natureza. Ao contrário, acho que a chuva nunca atrapalha. Tanto é que juntei três histórias de andanças em dias chuvosos pra contar.
A primeira delas aconteceu em 2009, quando eu conheci a Serra do Cipó, em Minas Gerais.  Uma coisa curiosa de Minas é que a estação das águas é bem definida. Chove de setembro até janeiro. Chove pra valer, com direito a todos os raios e trovões imagináveis. Cheguei a Cardeal Mota em novembro, já com o tempo nublado. Chovia há alguns dias. Pretendia ficar só dois dias... Adentrei ao portão do Parador Nacional, para cumprimentar o dono da casa, conhecido de meu cicerone, e de pronto fui convidada a pousar lá até o final do feriadão. Perfeito!

Entrada do Parador Nacional: casa de vinhos e gastronomia na Serra do Cipó.

O Parador Nacional foi eleito por 4 vezes consecutivas como a melhor casa de vinhos e gastronomia da Serra do Cipó pelo Guia 4 Rodas. O jardim é belíssimo e a comida é maravilhosa (recomendo o camarão com abóbora, o bacalhau com batatas e azeitonas pretas, a fraldinha de cogumelos, hummm, perfeita!) e os vinhos... ai, melhor nem comentar.
A primeira providência foi curtir a trilha da cachoeira grande. Grande, não, enorme, depois de tanta chuva. Depois fui à cachoeira do km 119, à casa de Dona Maria, onde tem uma escultura do Juquinha, guardião da Serra; tomei banho na prainha, deserta àquele dia; visitei a comunidade do açude, cumprimentei Donas Mercês e bati papo com os sábios do Cipó Velho. Para encerrar bem, subi o caminho dos escravos. E foi o dia em que mais choveu! Fiz a trilha de guarda-chuva e um super agasalho, só pra ver de cima a cachoeira do véu da noiva.

Cachoeira grande

Estátua do Juquinha, "corujão da Serra"


Mirante defronte ao caminho dos escravos

Trilha do caminho dos escravos

 Pausa para apreciar a vista
Cachoeira do véu da noiva. Quase na mesma altura da montanha!

No ano seguinte, tive a oportunidade de re-visitar o Santuário do Caraça, também em Minas Gerais. Estava em companhia da família Silva, graças a Deus! Devo registrar que essas pessoas foram colocadas em minha vida pela Providência Divina para me ofertar tantos sublimes ensinamentos em relação à educação, às questões espirituais, à vida em família propriamente dita - e vivida. Naquele feriado em homenagem à padroeira do Brasil, Belo Horizonte amanheceu encoberta de brumas. Mais brumas ainda – e frio – repousavam sobre o Santuário, que hoje funciona como centro de pesquisa, de cultura, de turismo e de peregrinação.
Depois de contemplarmos a igreja, o adro (lindooo) e a pedra do tombo do imperador, o museu, a trilha do riacho do Caraça e o RES-TAU-RAN-TE, decidimos subir a trilha da igrejinha. A ideia era ver a paisagem de cima, bem lá do alto, mas, quem diria, as brumas nos envolveram ao longo da subida e o que deu para aproveitar, em verdade, foi a sensação de estar dentro da nuvem. Chovia de leve, com gotículas gélidas caindo pelo rosto. Delícia de experiência. Mas paisagem mesmo, não dava pra ver, não!
Santuário do Caraça


 Dentro da igreja

A pedra onde D. Pedro quebrou a padaria, vulgo "Pedra do tombo"


O Museu, que funciona dentro das ruínas do colégio interno incendiado acidentalmente por um aluno. Lembra tanto O Ateneu...


A trilha escolhida: subir a montanha até a igrejinha!

Lá fomos nós, nuvem adentro

O que dava pra ver da paisagem


Banho de nuvem

Em 2011, foi a vez de conhecer a Serra do Jequitibá, aqui na Bahia. Fui convidada pelos amigos (“colegas de trabalho” eles foram só durante a primeira semana; agora somos quase uma família também) de Buerarema, ou Macuco, antigo nome da vila, para conhecer a trilha na quinta-feira santa. A vista da Serra pela janela da sala de trabalho sempre convidou. E me parecia ser uma caminhada curta. Aceitei sem pestanejar.
As chuvas dos dias anteriores surpreenderam a cidade. Graças a Deus, não choveu, exatamente, no dia. Mas as águas nos surpreenderam de baixo para cima. Logo no começo, atravessamos um brejo. Cinco minutos depois, um córrego. E durante toda a subida corria muita água do alto da serra pela trilha, que de curta e leve não tinha nada!
 Olha a montanha lá!!! E nós, animados, rumando pra ela.

O brejo


O córrego

O sorriso ainda no rosto


um coração de vitórias-régias

a lua cheia e o jequitibá-rei


Primeiro ponto de descanso. Nosso mascote, de seis aninhos, estava firme e forte. E nós? Ofegantes...


A segunda pausa foi rápida: só para apreciar o maior cacau que já vi na vida! Uma delícia!


Sobe mais um tanto... e haja água morro abaixo, meu Deus

Ops! Olha a paisagem!
O cansaço já estava para me vencer, quando me deparei com a maior e mais deliciosa pitanga do mundo: a do pomar de Seu Calixto

colhemos água direto da nascente

e prosseguimos. Ai, Jesus!

Seu Antonio, esse moço aí na foto, nasceu nessa Serra. Visitamos o local onde ficava a casinha da família dele e também a fonte de água, a pedra que tine, o banheiro rsrsr
Enfim, chegamos à Pedra da Serra do Jequitibá!
Andinho não apareceu porque fez todas as fotos dessa caminhada

pisante guerreiro

Lá do alto, dava para ver Buerarema e até o mar, que dista cerca de 50 km dali. Em verdade, estava nublado, mas todos me garantiram que lá, naquela linha do horizonte, brilha o azul do mar em horário de sol.


Foi a caminhada mais puxada que já fiz, porque estava fora de forma e desavisada da dimensão do esforço, mas valeu muito a pena!
Daqui a uns quatro meses a gente vai subir a serra mais uma vez, só que será para conhecer o Jequitibá-rei. Espero que não chova! Mas, se chover, terei mais um passeio em companhia das águas para contar!

Nenhum comentário:

Postar um comentário