Faz uns dias que meu primo, agora com 9 anos, perguntou à Vó:
- Vovó, se Aline se casar ela vai embora daqui?
Ôxe! Casar com quem? Respondi, já “alérgica” ao assunto.
E ele fez explicou:
- Aline, não vai embora pra outra casa, não. Você pode adotar um menino e ficar morando aqui pra sempre!
Então a mãe dele iniciou larga explicação sobre as famosas “adivinhações”, típicas da Paraíba; aqui conhecidas por “simpatias”. São formas de saber por antecipação com quem se irá casar, em quanto tempo, se será com sujeito pobre ou rico etc, etc, etc.
A primeira reza assim: separa-se um tantinho de cada refeição feita durante o dia - um restinho do café na xícara, um pedaço do pão que o acompanhou, um restinho de cada porção que se consumiu no almoço e por aí vai - em um cantinho da casa, de preferência aquele onde se faz orações, como um santuário particular. Ao lado dos pratos, lembrar-se de colocar talheres. À noite, antes de dormir, a moça deve rezar uma Salve Rainha até o trecho que diz “nos mostrai” e aí completar com “o homem com quem vou me casar”. É certeza que se sonha com o noivo vindouro, mas tem que ser feita em noite de sexta-feira da paixão.
- E você fez?
- Fiz, mas não coloquei colher entre os talheres porque quem come de colher é pobre e de pobre já basta eu. Deve ser por isso que não sonhei com ninguém... (risos)
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A segunda é mais difícil. Igualmente realizada em sexta-feira santa, a pessoa precisa contar com a ajuda de uma pessoa corajosa e corpulenta, preferencialmente. É que se faz necessário conquistar pétalas de flores que enfeitaram o leito de Jesus morto, aquele da procissão. Nessa data, todas as moças casadoiras de Desterro ficavam devendo um favor precioso à amiga mais forte de todas, que se lançava à recolha das flores em meio a uma multidão para que todas pudessem reparti-las e guardá-las embaixo do travesseiro e assim sonhar com o bendito prometido divino.
- No outro dia - contava ela – todas se reuniam para saber com quem sonharam as demais. Mais uma vez ela não tinha sonhado com ninguém.
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A terceira pode ser feita em qualquer época. Basta escrever os nomes do ex-namorados em papeis pequeninos, enrolar um a um e colocá-los em uma bacia com água e um pouco de mel. Guarda-se a bacia embaixo da cama e, no dia seguinte, amanhecerá aberto o papel com o nome daquele com quem a moça irá ser feliz para sempre.
Cá comigo, pensei, se ex-namorado prestasse, não seria ex. Sugiro a quem for tentar que liste apenas os nomes que estejam no campo das possibilidades futuras, afinal, pensamento positivo já é muita coisa!
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E tinha ainda uma quarta adivinhação: toma-se de empréstimo a aliança benta de uma amiga casada. Tem que ser benta. Enfia-se na aliança um fio de cabelo e o segura pelas duas pontas, formando um pêndulo. Então, posiciona-se a aliança sobre uma caneca. O número de batidas que a aliança fizer nas bordas da caneca corresponderá ao tempo, em anos, que se levará para casar.
Nessa parte ela disse que a aliança ficou paradinha, o que significava que ela se casaria no mesmo ano! As demais tiveram uma média de dois toques. Uma já se casou. A outra... aguarda há uns três anos, pelo menos.
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Para não me desanimar, ela disse que há muitas mulheres casadas em Desterro que tiveram muita sorte com as adivinhações e me relatou um, que foi o casório de seu irmão. Nesse relato, cooperou minha avó, entre muitas risadas.
Em véspera de São João, a moça deve pegar uma faca virgem e, concentrando o “sentido” no pedido, enfiar a faca numa bananeira. Na manhã seguinte, bem cedinho, sem falar a ninguém, ela deve retirar a faca da pobre planta. A nódoa da bananeira formará na lâmina a letra inicial do nome do sortudo que irá ganhar uma esposa em breve.
E o amor desses dois é um dos mais lindos da cidade!
Ao amor, benza Deus!
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