segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Dia de moqueca e bolo de tapioca

- Aline, pega cebola, tomate e pimentão que hoje a gente vai comer moqueca. Corta tudo em rodelas e machuca alho também.
- Sim, senhora.
Ao fundo a rádio AM anuncia o boletim policial da noite. Entre um chiado e outro, segue com música brega.
- Machuca mais alho que esse aqui eu usei pra temperar o peixe!
- Quer que misture com corante e pimenta-cominho, vó?
- Só um pinguinho de cada.
A rádio anuncia que sábado tem programa espírita das 10 ao meio-dia.
- Você quer que refogue tudo de uma vez ou prefere colocar os temperos depois de frito o peixe?
- Levando dendê em algum momento, qualquer jeito tá bom (risos).
- Misericórdia, meu Deus, desse povo que não vive sem dendê.

- Então eu vou começar refogando os temperos, vó.
Primeiro coloca azeite de oliva e aquece a panela até perfumar a cozinha de leve; põe alho. Quando perfumar mais, faz uma camada de cebola, outra de pimentão, outra de tomate. Joga bem leite de coco e um tantinho de dendê. Traz o peixe!
Acomoda o peixe com jeitinho. Joga suco de meio limão por cima. Tampa a panela. É o tempo de picar o cheiro verde: cebolinha, coentro, salsa. Destampa, vira as postas para cozinhar bem. Joga cheiro verde e tampa de novo.

- Pega a polpa de jenipapo e faz um suco.
- Massa, vó, essa polpa de jenipapo! Há quem diga que essa fruta leva seis meses pendurada no galho para amadurecer e cair.
- É... a gente só encontra ela pra comprar nos tempos de São João, lá pra junho mesmo.
vrummmmmmmmmm
Enche a jarra de suco, prova, guarda na geladeira.
Apaga o fogo da panela de moqueca que já tá pronto.


- Tá cedo! Vou fazer um bolo. De que você quer?
 - Ah, vó, quero de tapioca.
- Deixe ver... eu tenho aqui uma receita nova. Diz que é bolo de carimã. Carimã é tapioca?
- Sei não, mas se não for, não tem problema. A senhora usa tapioca como se fosse e aí inventa uma receita nova se não for.
- É mesmo!

- Seis ovos? Que absurdo! Isso mata a pessoa de colesterol alto! Bolo meu só leva até três ovos e isso ainda tá muito. Oxente!
Desliga o rádio e liga a Tv da cozinha. Desenho animado.
- Gente, meio quilo de tapioca vai dar bolo pra muita gente. Vou usar só metade.
- Ô vó, aí vai ser um bolo só pra essa tarde... Faz grandão mesmo que fica mais bonito e eu posso comer meio bolo em um dia, meio bolo no outro... sem pesar a consciência.
- Ora, mais tá! É pra comer mesmo!
E despeja todo o pacote de tapioca na tigela de bater bolo que tem mais de 35 anos de vida (útil).
Despeja açúcar, manteiga, leite, coco ralado, fermento... Bate, bate, bate, com a colher de pau. Despeja no tabuleiro e leva ao forno.
Tormento de cheiro bom invadindo a casa...
- Vó, o bolo já assou?
- Não, ainda demora.
- Vó, o bolo tá cheirando... vê lá se já tá bom!
- Mas você nem almoçou ainda! Vai fazer seu prato primeiro!
- Não, vó, quero lanchar bolo primeiro.
- Ora essa, saco puro não pára em pé! Não quero saber de greve de fome. Vai logo botar seu feijão, comer sua moqueca que quando acabar o bolo vai tá pronto.

Um comentário:

  1. E isso aí pequena, semeando um pouquinho de Bahia entre nós, os mortais,né?
    O que eu disse acerca dessas memórias gastronômicas?
    Meio bolo? Tão magrinha....
    Abraços
    Norma

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