No alto de um dos morros de Itabuna há um convento. Em verdade, lá só vivem homens, todos aos cuidados de Dona Das Neves. Aos domingos, ela prepara cozido e, quando os seminaristas pedem, ela faz pirão também. Foi em dia de domingo que eu visitei o convento do Alto da Lua pela primeira vez. Logo na chegada, fui atacada por um cão de guarda (vila-lata, é verdade) que me rendeu uma cicatriz no colo. Mas uma marca maior me foi gerada nessa ocasião, que é tanto espiritual quanto afetiva: a amizade de um padre (à época, noviciado; hoje diácono). Nós nos conhecemos na universidade, por intermédio de uma grande amiga em comum. Moço perguntador, culto, sorridente, engraçado. Depois de alguns papos pelos corredores da Uesc, ele me convidou a visitar a morada dos passionistas, onde gastamos algumas horas em conversas vitais.
Nove anos depois, prosseguimos compartilhando conversas sobre Deus, Jesus, Mateus, Marcos... Sobre família, amizade, profissão... E sobre Clarice Lispector, Jorge Luís Borges, Wood Alen, Alejandro Gonzales, Michelangelo Antonioni, Ingmar Bergman, Marcelo Camelo, Sartre, Kierkgaard...
Nas horas difíceis, ele me oferece arte. Moço sensível, com tamanha compreensão da complexidade das relações humanas. Nas horas boas, compartilhamos grandes risadas. Moço escrachado, alegre e brincalhão. Nas horas inseguras da docência, ele tem os subsídios necessários. Moço esforçado, sistemático, exigente, educador.
A cada encontro, ele abre minha caixa de Pandora: eu, enxurrada de desabafos, questionamentos e dúvidas. Ele, pastor de ovelhinhas em formação, sempre a oferecer alimento para a alma, o intelecto e o coração. Sempre saio do convento com alguma preciosidade literária, musical ou cinematográfica (ou tudo junto) para degustar, como se eu fosse a personagem de Felicidade Clandestina, com o livro de Lobato sempre aos braços!
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