Vó na escada que leva ao quintal
Vó tem nas plantas uma companhia musical: sempre as rega assobiando
ou cantando. Têm-nas ainda como parceiras contra os males espirituais que se
refletem no corpo, a exemplo das febres, dores de cabeça e toda sorte de má
sorte. Acreditava com firmeza na ação da vizinha benzedeira e sempre descobria um tipo de chá bom para qualquer doença que apareça. Tem até uma história de uma surra homérica que levei por causa de um pé de morango, mas graças a Deus, não me lembro disso.
Minha primeira experiência com o cultivo aconteceu para
superar um trauma. Eu tinha sete anos quando, como era de costume, eu assistia a
sessão da tarde e gritava pela minha mamadeira (sim, eu tomei mamadeira até o
sete anos). Só que naquele dia o mingau veio muito quente, queimou minha língua e
eu não consegui tomar tudo. Com medo que vó me visse desperdiçar comida,
escondi a mamadeira embaixo da cama. Quando ela saiu, corri na cozinha e com
uma faca de serra, cortei a danada ao meio, enchi de terra e pus uma plantinha,
acho que era erva daninha mesmo. Não me lembro do que fiz com a parte de cima.
Vó gostava tanto de fazer meu mingau que só deu por falta da mamadeira três
dias depois. Quando perguntada pelo meu objeto tão querido, apontei entre as
plantas que ela cultivava na área de serviço e recebi uma grande gargalhada. Eu
só não sabia que era preciso furar a parte de baixo do recipiente. A plantinha
morreu afogada na primeira chuva.
Passados 14 anos, eu ganhei uma horta de verdade no sítio
Pedro Pio. Cinco leiras, cerca em tela contra invasão das galinhas e um tonel
de metal. Comprei um mini-regador – meus bracinhos não sustentavam o peso de um
regador normal inclinado – e vários pacotes de sementes. Mostarda, cenoura,
beterraba, cebola, pimentão, tomates, salsa, couve chinesa e muitas outras. Montei
as sementeiras com todo carinho, transplantei tudo para o chão até um pouco
antes da hora...Todas as manhãs, levantava cedinho e molhava tudo, batia um papo com elas, mordiscava um temperinho ou outro. Mas quando chegava a temporada de provas ou congressos, perdia mais da metade da plantação :(
Os caminhos da vida me levaram de volta às cidades e foi
preciso aprender a cultivar em pequenos espaços. Tinha as janelas cheias de
plantinhas em Ouro Preto e lá fabriquei meus próprios potes na oficina de
cerâmica da FAOP. Tive um quarto cheio
de plantinhas em Belo Horizonte, do alecrim e coentro a um belo Antúrio rosa. Depois
aprendi a reciclar garrafas pet e alternava os banhos de sol da hortinha entre
a varanda e a área de luz do apê em Itabuna.
Reciclando pets, ensinei a criançada a plantar
também e, enquanto estive na Escola do Evangelho, a varandinha era convidativa
pela horta suspensa de ervas aromáticas. Jamais me esquecerei do dia em que pus
a turminha para pintar a parede com os dedos, fazendo desenhos de bichinhos e
plantas em comemoração ao dia do meio ambiente, coincidentemente, dia do meu
aniversário!
As primeiras sementes: girassóis
A parede colorida de plantas e bichinhos
Botando a mão na terra, com muita alegria
Certa vez, um amigo secreto pediu uma planta e como foi
difícil escolher esse presente! Cada pessoa tem uma espécie de sinergia com alguns
tipos de plantas. Nunca consegui cultivar flores além das onze horas, fortuna
ou antúrios... Como saber qual tipo se harmonizava com a pessoa? Mesmo com uma
pesquisa entre a família, não sei se acertei escolhendo uma folhagem bicolor,
mas gostei muito da ideia de presentear com plantas, não necessariamente pé de
flor, mas com certeza um serzinho vivo portador de bons auspícios e histórias a
serem contadas.
Você é natureza: flores, plantas, frutos, animais e verde.
ResponderExcluirSinto falta de nossas andanças, como eu sinto falta disso.
Espero que os novos caminhos da vida nos coloque em condições semelhantes.
Um beijo, saudade!
Oxalá! Beijos
ResponderExcluirPois eu "sou das flores"! Fui me descobrir com o dedo verde já "velha"... Mas creio que estou recuperando todo o tempo perdido! Meu jardim de varanda está lindo, mesmo no inverno!
ResponderExcluirNão me dou com ervas e temperos... Simplesmente não "pegam". Fazer o que? Me deixe com as flores mesmo!
Beijos floridos!
Quem me dera ser das flores! Mas ser dos temperos também é legal rsrsrs
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