Prestando bastante atenção, percebi que já vai fazer um ano
e meio que estou em Santa Maria da Vitória. E não, não venha me dizer que
passou rápido. Passou tudo no tempo certo.
Há dois anos, quando eu soube do concurso na Ufob, meus
olhos brilharam com a vaga para Teorias da Comunicação, mas eu não me animava
de morar tão longe do litoral onde enterraram o meu umbigo, onde ainda estão
meus familiares mais amados. Eu já estava morando no sudoeste baiano e
administrar essa distância já me pesava um tanto. Além do mais, eu estava adaptada
em Vitória da Conquista: tinha meu grupo de amigos, tinha companheiros
religiosos com quem gostava de trabalhar nas ruas, trabalhava em uma equipe
bastante unida na Uesb, estudava e tinha meus pares com quem discutir,
frequentava muito o aeroporto e curtia participar de cursos, festivais e
seminários fora da cidade, era figurinha certa nos eventos do teatro Carlos
Jeohvah. Imagina se naquele momento em que eu tinha criado coragem de pagar por
um super agasalho eu iria me mudar para o semiárido? Não... Não iria.
Algumas semana depois, como boa geminiana, titubeei. Era uma
vaga para professor efetivo e eu era só uma substituta na Uesb. Era uma cidade
nova, em uma região exuberante, e eu adoro desbravar o desconhecido. Era só um
concurso, ainda não era uma mudança de fato. Com muito sofrimento, fiz a
inscrição no apagar das luzes, com muitas limitações de internet e dificuldades
para scanear todos os documentos. Só não desisti porque uma amiga me disse que
tudo que é importante vem com dificuldades. Mais umas semanas e a Ufob publicou
a lista de inscrições homologadas. Havia uma concorrência sobre-humana para
esse tipo de concurso, mas eu experimentei um sentimento completamente atípico:
gana! Vontade de passar! Sentimento de capacidade de ocupar aquela vaga.
Aproveitando o período de greve, estudei como se não houvesse amanhã. Comi os livros com farinha, como se diz lá na minha terra. Senti cada bloco de dez minutos passarem como se fosse uma hora de trabalho intenso. E deu certo! Passei em primeiro lugar!
Aproveitando o período de greve, estudei como se não houvesse amanhã. Comi os livros com farinha, como se diz lá na minha terra. Senti cada bloco de dez minutos passarem como se fosse uma hora de trabalho intenso. E deu certo! Passei em primeiro lugar!
Cheguei a Santa Maria da Vitória no começo de dezembro e fui
muito bem acolhida pelos colegas e futuros alunos. Botei a bagunça no caminhão
e parti para um ciclo novo da vida.
Em Samavi, fiz mais três mudanças em um ano. Viajei pelo menos uma vez por mês ao longo do ano. Gastei quase todos os feriados queimando pestanas com a tese e consegui terminar o doutorado dentro do meu prazo. O trabalho na Ufob me promoveu profundamente. Encontrei nos alunos amizades sinceras e ótimas parcerias para projetos. Encontrei nos colegas pessoas que me desafiam nas minhas fragilidades e me reconhecem nas minhas potências. Estou mais segura, mais empreendedora, mais humilde, mais mochileira.
Os amigos de outrora já me percebem como uma pessoa muito diferente daquela Aline de um ano e meio atrás, mas, mesmo assim, ainda me surpreendem com expressões do tipo “você foi pra um fim de mundo da p..., heim?” ou “não tem nada lá, né?” e ainda “quando você vai pedir transferência pra um lugar melhor?”.
Em Samavi, fiz mais três mudanças em um ano. Viajei pelo menos uma vez por mês ao longo do ano. Gastei quase todos os feriados queimando pestanas com a tese e consegui terminar o doutorado dentro do meu prazo. O trabalho na Ufob me promoveu profundamente. Encontrei nos alunos amizades sinceras e ótimas parcerias para projetos. Encontrei nos colegas pessoas que me desafiam nas minhas fragilidades e me reconhecem nas minhas potências. Estou mais segura, mais empreendedora, mais humilde, mais mochileira.
Os amigos de outrora já me percebem como uma pessoa muito diferente daquela Aline de um ano e meio atrás, mas, mesmo assim, ainda me surpreendem com expressões do tipo “você foi pra um fim de mundo da p..., heim?” ou “não tem nada lá, né?” e ainda “quando você vai pedir transferência pra um lugar melhor?”.
Sério, gente, meu sangue ferve nessa hora. Se eu mudei, e
foi pra melhor, por que esse papo de que estou em um lugar pior? Sim, eu
gostaria que aqui tivesse um aeroporto, um teatro de bolso, um cinema, um bom
curso de francês, mais pesquisadores da mesma área, um bom café e uma livraria
bacana. Mas, você nem sabe, aqui tem outras coisas belas e ricas. Tem qualidade
de vida, silêncio, tem artistas de montão, tem espaço para projetos novos, tem tempo para
cozinhar, tem frutas e verduras frescas e orgânicas na feira (com preços super em conta), tem peta e rapadura serenta.
Tem distâncias curtíssimas de um canto a outro da cidade. Tem
parceiros para boa prosa, sem pressa. Tem rios e corredeiras de água cristalina
cortando as cidades. Tem histórias de comunistas e resistências. Tem causos,
lendas e acontecimentos inacreditáveis. Tem paz e vontade aprender
e de fazer mais coisas por esse cantinho do mundo. Tem tudo de que preciso para buscar ser uma pessoa melhor e mais feliz a cada dia.
Ai gente, que linda, e que lindo o que escreveu, deu até uns brilhinhos nos meus olhos.rs
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