sábado, 5 de março de 2011

Munguzá, lambuzá, canjica

Desde que eu era bem menina, vejo minha avó preparar uma panelada de munguzá quando chegam os tempos das festas juninas ou quando dá na veneta de fazer alguma coisa diferente de bolo. Ela levava quase uma tarde inteira indo e vindo para reunir os ingredientes, provar a harmonia do açúcar, o cheirinho de canela e cravo.
No final, ela servia o munguzá às amigas da igreja com um sorriso no rosto, como se fosse um manjar dos deuses. E me perguntava: "tá bom de açúcar ou quer mais leite condensado?" E eu respondia sempre: está bom, vó. Em verdade, eu só gostava do caldinho (risos); ia deixando os grãos de milho para o final, quando eu precisava encher a boca e mastigar às pressas, porque essa parte nunca pegava sabor de nada e era proibido desperdiçar comida em casa. Eu sempre mostrava a caneca vazia no final, pra ela se sentir orgulhosa do feito culinário.
Quando adulta, já em Minas, recebi a visita de algumas amigas que truxeram pra mim uma tigela de canjica. Abri a bendita com o estranhamento do mundo inteiro: canjica, na minha terra, é um mingau de milho bem concentrado, despejado em um prato fundo, que esfria, se firma, e se serve às fatias, com um leve polvilhado de canela em pó. Mas aquilo que estava na tigela não era canjica, ao menos pra mim, não era. Retruquei: Cangica? Não, isso é munguzá, só que com amendoim!
E elas, com o mesmo estranhamento, responderam: mun o quê?
Munguzá!!!! É quando se conzinha grãos de milho - brancos ou amarelos - com os leites de vaca, de coco e o condensado, junto com cravos da índia e canela em pau... Eu já fiz uma vez! Minha avó me ensinou. Lembro que meu irmão (carioca), aos três anos e meio, ainda não conhecia o prato e, quando sentiu o cheirinho doce invadir a casa, correu lá cozinha para me perguntar:
- ô, minha Line, o que é que você tá fazendo?
- É munguzá. Está quase pronto.
- E você vai me dá, o "lambuzá"?
O riso correu solto na sala, enquanto eu apreciava a tal canjica mineira. Uma delícia aquela mistura de milho com amendoim. Em verdade, a única iguaria junina que me apetecia era o pé-de-moleque feito pela minha tia mineira Margarida (e que minha avó nunca saiba disso). Ela derretia rapadura, misturava com amendoim torrado na hora e colocava colheradas em cima de uma folha de papel de manilha, aquele que o moço da mercearia usa pra embrulhar secos.
Hoje eu gosto de todas as possibilidades listadas acima: canjica baiana e mineira, munguzá e pé-de-moleque, além das lembranças de tantas fases, lugares e pessoas especiais com quem pude compartilhar da comida, do tempo e das boas risadas!

2 comentários:

  1. pois de pé-de-moleque servido em festa junina no nordeste, ou pelo menos em Maceió, na casa da minha avó, é um bolo. Que eu nem gosto muito, mas as pessoas se deliciam!

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  2. hahaha Minha avó é de Maceió! Ela fala desse bolo, mas nunca fez pra gente, aqui na Bahia. Vou cobrar na próxima festa junina!

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