Enfim, cheguei. Fiz uma prece, uma leitura inicial e comecei a correr para preparar o lanchinho da turma. Apareceu uma visita inesperada, que me trouxe mais calma (embora ela não soubesse de meu nervosismo). Check list: brinquedos do dia separados, materiais para contar a parábola do filho pródigo dentro do puf organizador, suco de goiaba prontinho... faltava passar manteiga nos pães quando ouvi os gritos da turma: tia! Tia! TIA! Tiaaaaaaa!!!!!!
Oi, oi, oi! Já estou chegando!!!
Eles gritavam para garantir o primeiro lugar na fila do lanche. E do beijo de bom dia! Contei que tia Renata estava a caminho e que o lanche estava atrasado. Pedi logo ajuda para a etapa não cumprida. A turma achou curioso: "a tia é tão engraçada..."
Ri. E relaxei.
Suco e pão entregues à mão, agora é tocar a criançada para a sala das mesas. O combinado do dia é não jogar o farelo de pão da mesa para o chão. Todo mundo tem de recolher seu farelo e jogar na lixeira.
- Ah, tia, então traz a lixeira pra sala!
- Uai, tá com preguiça de dar dois passos a mais? Toma coragem, homem!
Silêncio. Risinhos das meninas. E meu também.
- Tia, quero mais pão e suco.
- Tá, vem comigo.
Risadas e reclamações dos que ficaram. Algo do tipo: "nem pediu licença"... "É nem pediu licença!"
Chego toda preocupada, apaziguadora:
- Mas está todo mundo sentado. Por quê a briga de licença?
- É que aqui só tem doido, viu tia?
- É?
- É, Jesus estava sentado ali, daí ela sentou no lugar dele e nem pediu licença!
- Foi, tia, eu não pedi licença mesmo...
Risos, muitos risos.
E pergunto:
- E como se sabe onde Jesus está sentado?
- Ah, agorinha ele estava ali. Agora a gente não sabe, mas ele está o tempo todo vendo a gente de algum lugar...
- É... ele está mesmo rsrsr
***
Barriga cheia, farelo de pão recolhido, prece do dia feita, é hora de trabalhar o corpinho. Peço à turminha para erguer um bracinho para o alto e esticá-lo como se quisesse tocar o teto, olhando para cima. Na animação de mostrar como é, não percebi que eles não estavam fazendo o exercício junto comigo. Todos olharam para a minha barriga, que ficou à mostra quando ergui o braço e um deles gritou: a tia tá grávida!!!! E foi um corre-corre de criança querendo tocar minha barriga ao mesmo tempo que eu quase vou ao chão.
- Calma, gente, eu só estou gordinha!
Decepção geral. Todo mundo com o bracinho para cima. Agora os dois, pra não ter distração.
***
Mais corajosa, agora acompanhada por Renata, tomei providência para contar a parábola com os fantoches. Descartei o maldito cenário de papelão que eles quase destruíram na primeira tentativa de abordar o tema e usei a parede que separa a sala da cozinha mesmo. Fixei palitos de dente nos elementos do cenário (casas de fazenda, bichos, personagens) e preguei tudo em tiras de isopor. E lá fui eu, com duas mãos, manipular três fantoches. Foram poucas as vezes que eu escutei tanto silêncio numa aulinha! De repente, um fantoche cai. Risos, muitos risos. E eu me animando. No ápice do reencontro do filho pródigo com o pai, um caminhão passa na rua e ninguém me escuta. Renata, que estava de narradora e asseguradora da ordem na sala, ao invés de prosseguir, narrou assim:
- E passou um caminhão barulhento e ninguém escutou o que o pai disse ao filho mais novo...
A turminha foi ao êxtase!
Eu também!!!!
- Depois de muitas risadas, terminamos a contação da parábola bem felizes. Pedi à turminha que pintasse os elementos do cenário, mas eles queriam mesmo era brincar com os fantoches. Quase deu briga, afinal eram só três. Fica o compromisso para muito breve: substituir uma oficina de brincar pela de fabricação de fantoches com reciclagem!
E valeu muito o dia!!! Feliz Páscoa!!!!
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