Nos tempos do ensino médio, período alto da minha fase mais
do que tímida, havia um grupo de seis ou sete colegas com quem eu gostava de
interagir. Cada uma tinha uma leitura favorita, que levava para compartilhar
com as demais nos "intervalos" das aulas. Eu sempre preferia a Super
Interessante, mas a gente lia de tudo: fofocas, novelas, cuidados pessoais,
moda... E cada uma mostrava para a outra a novidade que julgava mais legal. Foi
assim que descobri que o cérebro feminino produzia mais palavras do que o masculino.
A diferença era gritante: mulheres conseguiam fabricar quase 1500 palavras a
mais do que os homens a cada dia! Com a devida licença para o fato do ser humano não ser tão exato quanto as ciências exatas, parecia ser consenso que os meninos falavam muito, mas ainda eram menos tagarelas do que as meninas. E foi assim que julguei o meu cérebro como
masculino. Eu era econômica com as palavras...
No último sábado, dia 01 de fevereiro, tomei um ônibus com
destino a minha cidade natal. E viagem
de ônibus tem sempre uma história ou outra que a gente escuta, querendo ou não.
Dessa vez, um senhor bem simples perguntou pela data do dia e danou-se a rir,
dizendo: "meu pai que dizia, qual é o mês que a mulher fala mais
pouco?". Uma mulher que estava na poltrona à esquerda dele tentou argumentar:
"a mulher fala muito é porque tem criança pequena...". Ele riu ainda
mais, respondendo que "é porque falta dois dias pra o mês acabar. O certo
é o mês acabar em 30 ou 31, mas fevereiro acaba em 28, então a mulher fala mais pouco nesse mês". Por fora eu ri, mas por dentro eu não tive como me
identificar...
De volta a Conquista, me vi ainda encafifada com a conversa
daquele senhor. Foi quando encontrei uma lenda sufi que me fez pensar com
carinho em todas essas informações. Acho que vale a pena cada um refletir
também:
"Diz a lenda Sufi que o Senhor, após criar o homem e
não tendo nada sólido para construir a mulher, tomou um punhado de ingredientes
delicados e contraditórios, tais como a timidez e ousadia, ciúme e ternura, paixão
e ódio, paciência e ansiedade, alegria e tristeza, e assim a fez, entregando-a
ao homem como sua companheira.
Após uma semana, o homem voltou e disse: Senhor, a criatura
que me deu faz minha vida infeliz. Ela fala sem parar e me atormenta de tal
maneira que nem tenho tempo para descansar. Ela insiste em que lhe dê
atenção o dia inteiro e, assim, minhas horas são desperdiçadas. Ela chora por
qualquer motivo, fica facilmente emburrada e, às vezes, perde muito tempo com
bobagens. Vim devolvê-la porque não posso viver com ela.
Depois de uma semana, o homem voltou ao Criador e disse:
Senhor, minha vida é tão vazia desde que eu trouxe aquela criatura de volta!
Sempre penso nela, em como ela dançava, cantava. Penso em como era graciosa,
como me olhava, como conversava comigo e como se achegava a mim. Ela era
agradável de ver e de acariciar. Eu gostava de ouvi-la rir. Por favor, gostaria
que a devolvesse para o meu convívio.
Está bem! - disse o criador - e a devolveu.
Mas três dias depois, o homem voltou e disse: Senhor, eu
não sei. Não consigo explicar, mas depois de toda a minha experiência como essa
criatura cheguei à conclusão de que ela me causa mais problemas do que prazer.
Peço-lhe recebê-la de volta, de novo! Não consigo viver com ela!
O Criador respondeu: Mas também não sabe viver sem ela.
E virou-se de costas para o homem e continuou Seu trabalho.
O homem, desesperado, disse: Como é que vou fazer? Não
consigo viver com ela e não consigo viver sem ela!
Aí arrematou o Criador: Achei que, com as tentativas, você
já tivesse descoberto. Amor é um sentimento a ser aprendido. É tensão e
satisfação. É desejo e hostilidade. É alegria e dor. Um não existe sem o outro.
A felicidade é apenas uma parte integrante do amor.
Isso é o que deve ser aprendido. O sofrimento também
pertence ao amor. Este é o grande mistério do amor: Sua própria beleza é seu
próprio fardo!
Em todo esforço que se realiza para o aprendizado do amor é
preciso que consideremos sempre, a doação e o sacrifício, que caminham lado a
lado com a satisfação e a alegria."
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