terça-feira, 26 de abril de 2016

O ano mais importante da vida. Ou não!

Em 2011, decidi voltar para a Bahia. Voltei para o lar em que cresci e me iniciei com chave de ouro na docência superior. Eu acreditava que aquele seria o ano mais importante da minha vida.
Mas veio 2012, ano em que conheci meu pai e ajudei a fundar uma casa espírita. Estava certa de que aquele foi o melhor e o mais difícil ano de toda a minha vida.

Em 2013, ingressei no doutorado. Mudei mais uma vez de cidade, encontrei uma prima que é um presente de Deus em minha vida e recebi as chaves de meu apartamento. Ah, a casa própria! Pena que eu não morava mais em Itabuna. Me disseram que, sem dúvida, aquele era o ano mais importante da minha vida e eu não discuti.

Mas 2014, sim, foi um grande ano. Superei um início de depressão usando apenas a ayurveda e alguns alimentos germinados. Às vésperas de uma seleção importante, quase entregando os pontos, recebi o incentivo mais poético de toda a minha vida: “não quero saber se você está mal: o trabalho vai te fazer bem. Também não quero saber se você está concorrendo com a buceta das galáxias ou com a pica do sabre de luz: você é boa! Sente a bunda na cadeira e comece a estudar agora. Você vai fazer essa prova, sim!”. Aquilo foi tão impactante... Saber que alguém tão lúcido, culto e do bem acreditava tanto em mim foi incrível! Com apenas uma semana de estudo, passei no concurso para professora substituta no curso de cinema da Uesb com nota 9,2! E como foi importante, meu Deus! Estudei muito, escrevi meu primeiro capítulo da tese e, com o dindin que entrou, fiz meu primeiro mochilão fora do país. “Solita”! Foi um ano incrível!

Mas eu nem te conto que foi em 2015 que eu encarei a necessidade da terapia. Autodescobrimento é uma urgência. Viver com leveza é uma necessidade. Compreender o que ainda me impedia de ser o que sou em plenitude é libertador. Estar ciente de que não preciso provar nada pra ninguém, embora seja um tanto clichê, é tão óbvio que passa despercebido da gente. O ruim é que essa jornada por dentro da nossa personalidade não tem fim. A vida nos surpreende quando compreendemos que é hora de mudar e, numa mescla de superação e descoberta de novos desejos, conseguimos dar novas “ordens” ao universo. Foi assim que aprendi a me sentir entre pares com meus colegas de trabalho e de pesquisa; me senti liberta para amar; me senti mais do que pronta para perdoar e adotar o lema “vida que segue”. Reconheci que o que estudei tem valor e fui aprovada em um concurso para professora efetiva. E tome mais mudança! Dessa vez, mudei de cidade, de região, de disciplina de trabalho, de paisagem afetiva.

2016 está sendo um ano de desafios agigantados. Por exemplo, aprender a não superdimensionar os desafios. Aliás, esse é um desafio pra lá de velho... Saber me cuidar nos meus períodos de fragilidade. Abrir-me para a dor das distâncias e rompimentos inesperados, afinal, a gente tem que viver o luto e não guardá-lo sob o tapete. Saber acolher, saber romper. Abrir-me também aos afetos cotidianos, aprender a abraçar, aprender a receber ajuda, aprender a cumprimentar e despedir suavemente. Não sou autossuficiente, afinal. Reunir energias para realizar minhas ideias e projetos (até então, só colaborava e incentivava os projetos de amigos) e isso quer dizer que hoje em dia eu acredito verdadeiramente em minhas ideias! Abrir-me para a cidade grande e tudo o que ela tem de potência. Reabrir-me para amigos de quem descobri imperfeições, afinal, também sou imperfeita, portanto não posso/devo romper em definitivo sem compreender que estou entre diferentes. E sempre estarei.

Enfim, até aqui, descobri que não importa saber qual ano foi mais importante da minha vida. Esse tal ano mais importante nunca vai chegar porque em todos os anos eu vou querer aprender mais. Se eu sentir que sei muito, algo estará errado comigo, porque hoje reconheço que sempre haverá novas conquistas no aguardo de minha mobilização. Fazer da vida uma grande sucessão de anos importantes é que deve ser o segredo de uma vida boa. E destaco isso porque sinto que viver é ter histórias pra contar, aprendizados a adquirir e depois dividir. É saber estar junto e também, como cantou Gilberto Gil, é saber “só ser”.

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