Em 2011, decidi voltar para a Bahia. Voltei para o lar em
que cresci e me iniciei com chave de ouro na docência superior. Eu acreditava
que aquele seria o ano mais importante da minha vida.
Mas veio 2012, ano em que conheci meu pai e ajudei a fundar
uma casa espírita. Estava certa de que aquele foi o melhor e o mais difícil ano
de toda a minha vida.
Em 2013, ingressei no doutorado. Mudei mais uma vez de
cidade, encontrei uma prima que é um presente de Deus em minha vida e recebi as
chaves de meu apartamento. Ah, a casa própria! Pena que eu não morava mais em
Itabuna. Me disseram que, sem dúvida, aquele era o ano mais importante da minha
vida e eu não discuti.
Mas 2014, sim, foi um grande ano. Superei um início de
depressão usando apenas a ayurveda e alguns alimentos germinados. Às vésperas
de uma seleção importante, quase entregando os pontos, recebi o incentivo mais
poético de toda a minha vida: “não quero saber se você está mal: o trabalho vai
te fazer bem. Também não quero saber se você está concorrendo com a buceta das
galáxias ou com a pica do sabre de luz: você é boa! Sente a bunda na cadeira e comece
a estudar agora. Você vai fazer essa prova, sim!”. Aquilo foi tão impactante... Saber que
alguém tão lúcido, culto e do bem acreditava tanto em mim foi incrível! Com apenas uma
semana de estudo, passei no concurso para professora substituta no curso de
cinema da Uesb com nota 9,2! E como foi importante, meu Deus! Estudei muito, escrevi meu
primeiro capítulo da tese e, com o dindin que entrou, fiz meu primeiro mochilão
fora do país. “Solita”! Foi um ano incrível!
Mas eu nem te conto que foi em 2015 que eu encarei a
necessidade da terapia. Autodescobrimento é uma urgência. Viver com leveza é
uma necessidade. Compreender o que ainda me impedia de ser o que sou em
plenitude é libertador. Estar ciente de que não preciso provar nada pra
ninguém, embora seja um tanto clichê, é tão óbvio que passa despercebido da
gente. O ruim é que essa jornada por dentro da nossa personalidade não tem fim.
A vida nos surpreende quando compreendemos que é hora de mudar e, numa mescla
de superação e descoberta de novos desejos, conseguimos dar novas “ordens” ao
universo. Foi assim que aprendi a me sentir entre pares com meus colegas de
trabalho e de pesquisa; me senti liberta para amar; me senti mais do que pronta
para perdoar e adotar o lema “vida que segue”. Reconheci que o que estudei tem
valor e fui aprovada em um concurso para professora efetiva. E tome mais
mudança! Dessa vez, mudei de cidade, de região, de disciplina de trabalho, de
paisagem afetiva.
2016 está sendo um ano de desafios agigantados. Por exemplo,
aprender a não superdimensionar os desafios. Aliás, esse é um desafio pra lá de
velho... Saber me cuidar nos meus
períodos de fragilidade. Abrir-me para a dor das distâncias e rompimentos
inesperados, afinal, a gente tem que viver o luto e não guardá-lo sob o tapete.
Saber acolher, saber romper. Abrir-me também aos afetos cotidianos, aprender a
abraçar, aprender a receber ajuda, aprender a cumprimentar e despedir
suavemente. Não sou autossuficiente, afinal. Reunir energias para realizar
minhas ideias e projetos (até então, só colaborava e incentivava os projetos de
amigos) e isso quer dizer que hoje em dia eu acredito verdadeiramente em minhas
ideias! Abrir-me para a cidade grande e tudo o que ela tem de potência.
Reabrir-me para amigos de quem descobri imperfeições, afinal, também sou
imperfeita, portanto não posso/devo romper em definitivo sem compreender que
estou entre diferentes. E sempre estarei.
Enfim, até aqui, descobri que não importa saber qual ano foi
mais importante da minha vida. Esse tal ano mais importante nunca vai chegar
porque em todos os anos eu vou querer aprender mais. Se eu sentir que sei
muito, algo estará errado comigo, porque hoje reconheço que sempre haverá novas
conquistas no aguardo de minha mobilização. Fazer da vida uma grande sucessão
de anos importantes é que deve ser o segredo de uma vida boa. E destaco isso porque
sinto que viver é ter histórias pra contar, aprendizados a adquirir e depois dividir.
É saber estar junto e também, como cantou Gilberto Gil, é saber “só ser”.
Isso. É preciso aprender a só ser. E você É. ;)
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