domingo, 10 de julho de 2016

A pegada do planeta

Foi na última quinta-feira, dia 7 de julho, que estive admirando os resultados das pesquisas sobre sustentabilidade na 68ª reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) na querida Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), em Porto Seguro. Após apresentar meu pôster para pessoas de diferentes formações e interesses, me permiti passear entre os stands e conhecer mais sobre astronomia, sementes para o semiárido multiplicadas em laboratório, hortas e composteiras domésticas, robôs garis para o fundo do mar e... a pegada do planeta. Não sei bem se era esse o nome, pois o galpão estava cheio de gente pra mostrar novidades e pra conhecer coisas novas, mas foi esse o nome que eu senti e está valendo pra mim que se chame assim. Muito me surpreendeu o convite para realizar o tal teste. Sem saber do que se tratava, mas sob o efeito da gentileza da jovem pesquisadora que me convidou, segui até o stand, me sentei frente a um computador e comecei (sem muita vontade, confesso) a responder o questionário. Havia perguntas do tipo “quantas vezes por semana você consome carne?” ou “quantas horas você viaja de avião por ano?”, e ainda “com que frequência você usa o transporte público?” e também “por quais motivos você troca seus aparelhos eletrônicos?”. O resultado para o meu teste foi “Parabéns! Seu estilo de vida consumiria apenas um planeta por ano”.

A jovem sorriu com muita alegria porque aquela foi a primeira vez, em cinco dias de evento, que o resultado foi “apenas um” para algum ser humano. Eu sorri de um jeito amarelo, só para não frustrar a garota, mas eu confesso que me senti bastante envergonhada e preocupada. Um planeta por ano ainda é muito a ser “consumido” por uma só pessoa, minha gente!Saí do salão toda cabisbaixa, pensando em um jeito de amenizar esse quadro. 

Fui buscar recursos lá na infância. Eu nasci no dia mundial do meio ambiente e as questões ambientais sempre foram de meu interesse. Eu já rejeitava a carne vermelha desde pequenina e aprendi com vó a importância de priorizar o “feito em casa” e também de cultivar plantinhas no quintal (no meu caso, usava a janela do quarto ou a sacada, pois morei muito tempo em apartamentos). Ela sempre gostou de flores e ervas, mas minha mão só “sabe” cuidar de temperos e verdurinhas. Com ela também aprendi a só tomar “remédio de farmácia” em casos urgentes. Tomo chás todos os dias, preparo minha própria refeição com produtos da feira, consumo frutas em lugar de biscoitos recheados, priorizo a prevenção a ter que realizar tratamentos de saúde. Aproveito a luz do sol ao máximo na iluminação da casa e também evito o desperdício a todo custo.

Depois de adulta, com as redes sociais e com as amigas, descobri que posso reduzir ainda mais o consumo de produtos industrializados, derivados do petróleo, nocivos à natureza e à minha própria saúde. De 2013 para cá, cada semestre foi tempo de experimentação de práticas diversas de auto cura e redução de danos ao meio ambiente. Assim, reduzi o consumo de leite e frango a quase zero. Substitui os temperos industrializados pelas especiarias segundo a Ayurveda. Conheci e adotei “para todo o sempre, amém” os óleos essenciais, seja para fortalecer o corpo físico, seja para ajudar o equilíbrio emocional ou mesmo apenas como repelente. Abandonei os absorventes íntimos e praticamente não uso mais shampoos e desodorantes que não sejam preparados em casa.

Não se trata de uma “ditadura natureba”, como pode ocorrer a um ou outro leitor. Eu sou livre para usar qualquer produto, mas eu sei o quanto é importante e o quanto posso carregar de amor as minhas pequenas “bruxarias” cotidianas. Além disso, experimentar essas receitas aumenta em mim o sentimento de sororidade, o laço que une a todas as mulheres em irmandade, que fortalece nossos vínculos de afeto e nossos conhecimentos ancestrais.

Hoje em dia, acho que o universo me encaminha naturalmente, de tempos em tempos, para outros setores da rotina que precisam ser repensados. Faz uma semana que me mudei para uma casa que fica mais perto do trabalho. Queria muito reduzir o uso da moto e deu muito certo. Mas, na primeira noite na casa nova, descobri um vazamento na pia da cozinha e, muito chateada, adotei uma bacia na cuba. No dia seguinte, já estava pegando gosto por reduzir a quantidade de detergente e dispensar aquela água nas plantas. Seria muita água a seguir pelo ralo, mas é bem pouca água a voltar para terra e, consequentemente, para a atmosfera, em um ciclo natural.

Inspirada nessa pegada, já consigo reutilizar toda a água da máquina de lavar na limpeza da moto, da bike, do banheiro e até no uso do sanitário. Agora quero trocar de vez os desinfetantes industrializados pelos chás fungicidas e bactericidas, o sabão em pó industrial pelo caseiro, o filtro solar de mercado pelo natural. Antes de comprar algum utensílio, vou verificar se posso construí-lo, reciclando embalagens ou experimentando o mesmo princípio em outros materiais. Vou construir um minhocário para transformar o lixo seco (como o pó de café, os saquinhos e ervas usados em chás, as cascas de frutas e verduras) em húmus para as plantas. E estarei sempre atenta a novas maneiras de reduzir, de reaproveitar, de valorizar o “feito por mim”.

Agradeço diariamente às pessoas que disponibilizam essas alternativas e manuais na internet. Não, não me sinto uma formiguinha a apagar incêndio. Estou certa de que não estou só a tentar fazer o que é certo. E estou certa também de que quem ri de mim não se esquecerá de que alguém, em algum lugar, tentou fazer as coisas de um jeito diferente daquele que manda o capitalismo. Em seu tempo, essa pessoa se lembrará do exemplo que apenas passei adiante.

Quem sabe assim o planeta seja suficiente para mais pessoas, como eu e você, por mais tempo.

Um comentário:

  1. Vixe... eu nem ia querer fazer esse teste, pois vou estar toda errada. Devo estar gastando muitos planetas...
    #shameonme

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